domingo, 25 de abril de 2010

25 do 4. Sempre!

Alvor, 6 de Outubro de 2008
LIBERDADE

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen
in Mar Novo, 1958

terça-feira, 13 de abril de 2010

Insónia

INSÓNIA

Penso que sonho. Se é dia, a luz não chega para alumiar o caminho pedregoso; se é noite, as estrelas derramam uma claridade desabitual.
Caminhamos e parece tudo morto: o tempo, ou se cansou já desta longa caminhada e adormeceu - ou morreu também. Esqueci a fisionomia familiar da paisagem e apenas vejo um longo ondular de deserto, a silhueta carnuda e torcida dos cactos, as pedras bicudas da estrada.
Chove? Qualquer coisa como isso. E caminhando sempre, há em redor de nós a terra cheia de silêncio.
Será da própria condição das coisas serem silenciosas agora?

Carlos de Oliveira
Poesias, Portugália Editora

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Eu me perdi!


Eu me perdi

Eu me perdi na sordidez do mundo
Onde era preciso ser
Policia agiota fariseu
Ou cocote

Eu me perdi na sordidez do mundo
Eu me salvei na limpidez da terra

Eu me busquei no vento e me encontrei no mar
E nunca
Um navio da costa se afastou
Sem me levar

Sophia de Mello Breyner Andresen
Mar, Ed Caminho

quarta-feira, 31 de março de 2010

Palavras...


VERBO

Ponho palavras em cima da mesa; e deixo
que se sirvam delas, que as partam em fatias, sílaba a
a sílaba, para as levarem à boca - onde as palavras se
voltam a colar, para caírem sobre a mesa.

Assim, conversamos uns com os outros. Trocamos
palavras; e roubamos outras palavras, quando não
as temos; e damos palavras, quando sabemos que estão
a mais. Em todas as conversas sobram as palavras.

Mas há palavras que ficam sobre a mesa, quando
nos vamos embora. Ficam frias, com a noite; se uma janela
se abre, o vento sopra-as para o chão. No dia seguinte,
a mulher a dias há-de varrê-las para o lixo.

Por isso, quando me vou embora, verifico se ficaram
palavras sobre a mesa; e meto-as no bolso, sem ninguém
dar por isso. depois guardo-as na gaveta do poema. Algum
dia, estas palavras hão-de servir para alguma coisa.

Nuno Júdice
in, As coisa mais simples

domingo, 28 de março de 2010

Poesia musical!


Shenandoah
keith Jarrett

quinta-feira, 25 de março de 2010

Há palavras que nos beijam


 Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O’Neill,
No Reino da Dinamarca, Guimarães Editores

sexta-feira, 19 de março de 2010

Quem és tu

Quem és tu

Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
Pisando o luar branco dos caminhos,
Sob o rumor das folhas inspiradas?

A perfeição nasce do eco dos teus passos,
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.

A história da noite é o gesto dos teus braços,
O ardor do vento a tua juventude,
E o teu andar é a beleza das estradas.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia, Moraes Editora

quarta-feira, 17 de março de 2010

Deprimido?

Este blogue anda muito deprimido.
Vamos lá mudar a fatiota a ver se anima!

terça-feira, 16 de março de 2010

Dia ou noite?

 L' Émpire des Lumières,1954
René Magritte

Apesar de ser dia claro, a "cidade" continua às escuras.
Como nós...

sexta-feira, 12 de março de 2010

No ponto onde o silêncio


No ponto onde o silêncio

No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia, Moraes Editores