quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Comentários

Recebi por duas vezes, um email de uma visitante referindo que o seu comentário tinha sido retirado e perguntava qual era a razão.
Como nunca retirei nenhum comentário, agradeço a todos os comentadores a quem já tenha acontecido o mesmo, o favor de me informarem, ou nos comentários, ou por email.
O meu endereço pode ser consultado no meu perfil, clicando em "ver meu perfil completo".

terça-feira, 23 de setembro de 2008

No dia da morte de Pablo Neruda!





XLIV



Saberás que não te amo e que te amo

pois que de dois modos é a vida,

a palavra é uma asa do silêncio,

o fogo tem sua metade de frio.



Amo-te para começar a amar-te,

para recomeçar o infinito

e para não deixar de amar-te nunca:

por isso não te amo ainda.



Amo-te e não te amo como se tivesse

nas minhas mãos a chave da felicidade

e um incerto destino infeliz.



O meu amor tem duas vidas para amar-te.

Por isso te amo quando não te amo

e por isso te amo quando te amo.



in Cem Sonetos de Amor

Campo das Letras




Apesar de estar ainda em reflexão e dado que vou ter os últimos dias de férias - só para meados de Outubro regressarei com novo figurino - posto esta pequena homenagem a Pablo Neruda, falecido a 23 de Setembro de 1973, em Santiago, Chile.




sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Este blogue!


Este blogue está a ficar demasiado dolico-doce!
Ou muda, ou morre, diabético!

Vai ser repensado...

Para a próxima semana já temos novidades...!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Dia


Dia


Como um oásis branco era o meu dia
Nele secretamente eu navegava
Unicamente o vento me seguia.

Sophia de Mello Breyner Andresen
No tempo dividido, 1954

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Aldeia


Vivo, há cerca de 1 ano, na aldeia, que dista 14 Km da cidade que tem cerca de 40.00 habitantes, e estou a 2 Km da A23 que me leva à cidade, em 10 minutos e a Lisboa em menos de 2 horas, sem ultrapassar os 130 Km/h!

Mas adquirimos novos hábitos.
A padeira da aldeia vizinha, 1 Km, vem diariamente, com pão ainda quente com um cheirinho que apetece logo comer. É daquele pão que comemos e ficamos sem fome, nada de pão de plástico do Hipermercado. Por vezes a vizinha que tem forno faz a sua fornada de pão, dá-nos um, meu Deus, que maravilha, esse é logo aberto, seja a que horas for e come-se logo uma fatia.
É pão que me faz lembrar a infância.
Também vêm os congelados todas as semanas, Family Frost, que nos abastece de tudo nessa área e com bons produtos.
Hoje veio o senhor do peixe. Vai todas as madrugadas ao MARL, a Loures, buscar peixe fresco.
Excelente!
Hoje compramos filetes de cherne, pargo para assar, carapaus.
Tudo a cheirar a maresia e mais barato que no Hiper.
Os legumes são da horta e das vizinhas que fazem gala em oferecer.
A minha mulher (Pediatra) observa os bébés de graça, são todos amigos já que a aldeia é pequena, e pagam em géneros que produzem, mesmo os que não têm filhos ou netos estão sempre a oferecer, nabiças, figos, maçãs, couves, batatas, etc..
Não se usam euros.

Os livros, DVD e CD vêm da FNAC on-line. E na cidade há várias livrarias (Bertrand, Europa-América, etc).

O cinema está na cidade, a 10 minutos, (4 salas) e Lisboa a menos de 2 horas de Autoestrada.

É tão bom viver no campo!
Quando quiserem podem vir fazer uma visita, mas têm de marcar com antecedência...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Nunca mais

O sonho
Pablo Picasso


Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.

Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa.
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste:
A plenitude de cada presença.

E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Poesia
, 1944

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Passamos pelas coisas sem as ver


XXXIV

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos como animais envelhecidos;
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos:
como frutos de sombra sem sabor
vamos caindo ao chão apodrecidos

Eugénio de Andrade
As mãos e os frutos

domingo, 14 de setembro de 2008

Mãos


I

Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, e dos choupos,
carregados de sombra e rasos de água.

Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos.

Eugénio de Andrade
As mãos e os frutos

sábado, 13 de setembro de 2008

Transfiguração

Retrato de Mulher Jovem

Botticelli




Transfiguração

Tens agora outro rosto, outra beleza:

Um rosto que é preciso imaginar,

E uma beleza mais furtiva ainda…

Assim te modelaram, caprichosas,

As sombras da lonjura,

Mãos irreais que tornam irreal

O barro que nos foge da retina.

Barro que em ti passou de luz carnal

A bruma feminina….



Mas nesse novo encanto

Te conjuro

Que permaneças.

Distante e preservada na distância.

Olímpica recusa, disfarçada

De terrena promessa

Feita aos olhos tentados e descrentes.

Nenhum mito regressa…

Todas as deusas são mulheres ausentes…



Miguel Torga

Coimbra, 20 de Março de 1963

Diário IX

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Canção

Vila Flor
Canção

Hoje venho dizer-te que nevou

no rosto familiar que te esperava

Não é nada, meu amor, foi um pássaro

a casca do tempo que caiu,

uma lágrima, um barco, uma palavra.


Foi apenas mais um dia que passou

entre arcos e arcos de solidão;
a curva dos teus olhos que se fechou,

uma gota de orvalho, uma só gota,
secretamente morta na tua mão.


Eugénio de Andrade
Poesia

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Miguel Torga, eterno jovem!

Planalto mirandês

O que me salva nesta existência repetitiva é a minha capacidade de renovar incessantemente a visão das coisas. Nunca esgoto a realidade. Tanto a perscruto, que, como no amor, que nenhuma aparência satisfaz e vai sempre além do que vislumbra, acabo por descobrir nela um pormenor que a torna inédita ao olhar e à imaginação. Estou sempre pela primeira vez em todos os lugares.

Miguel Torga
Chaves, 1 de Setembro de 1988
Diário XV

Planalto

Planalto Mirandês

Planalto


Alto céu, alta luz, alta pureza.
Ascensão da granítica aspereza
Dos homens e do chão.
Guiada pela mão
Da fome insatisfeita,
A teimosa charrua da vontade
Lavra e semeia as fragas da planura.
Mas a grande colheita
É de serenidade:
A paz azul em cada criatura.

Miguel Torga
Miranda do Douro, 2 de Maio de 1976
Diário XII

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Trás-os-Montes, reino maravilhoso!

Não tenho asas de contemplativo. Os meus arrebatamentos processam-se ao nível do chão. Dante, no Purgatório, promete o castigo de Deus para os desatentos à beleza eterna do céu, símbolo da própria transcendência. Eu sou desses pecadores. Nunca me canso de olhar a terra, e posso contar pelos dedos as horas que passei a namorar o firmamento. Gosto de ver uma noite estrelada, mas troco por qualquer seixo dos caminhos a mais cintilante jóia sidérea. Passei o dia feliz da vida a transitar de paisagens, e a extasiar-me diante de todas. Até que a tarde morreu. E agora, estendido no terraço do hotel, com a abóbada celeste a brilhar lá no alto, em vez de me perder, em mística ascensão, na constelada imensidade, deixo cair sonhadoramente as pálpebras, a antegozar na madrugada de amanhã o sol a espreguiçar-se nas restolheiras.

Miguel Torga
Mirandela, 27 de Julho de 1968

Diário X

Alentejo


Alentejo

A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o corpo caminha
Sem chegar!...

Miguel Torga
DiárioXII

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A mulher com mais de 40 anos

Isabella Rossellini

56 anos



Costumo dividir a nossa vida de acordo com as estações do ano: Primavera, Verão, Outono e Inverno, não fixando datas para as separar, dependendo das pessoas e das circunstâncias.

As mulheres ao passarem os 30 anos tendem a ficar angustiadas porque “já estão a ficar velhas”, quando nem sequer atingiram o seu máximo esplendor.

O amadurecimento físico, psicológico e emocional é variável. Na mulher, por exemplo, a plenitude só é atingida cerca dos 40 anos. Depois mantém-se num planalto de vários anos, podendo chegar a ultrapassar os 60 anos. Depois dos 60 anos acrescenta-se a riqueza da sabedoria!

O encanto, a sensibilidade, a experiência e o requinte de uma mulher com mais de 40 anos é um desafio aliciante e perturbador. Assim ela saiba cuidar de si.

As minhas estações do ano preferidas são, desde sempre, o fim do Verão, o Outono e o princípio do Inverno. Cada uma com o seu encanto próprio e insubstituível.