quinta-feira, 25 de março de 2010

Há palavras que nos beijam


 Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O’Neill,
No Reino da Dinamarca, Guimarães Editores

4 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Agradeço-te o poema e reenvio-te para um de Eugénio de Andrade que conheces muito bem, com toda a certeza - "As Palavras" - e cuja última estrofe nos diz:

"Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?"

Abraço

Lídia Borges disse...

É um meu poema preferido de Alexandre O’Neill...
Obrigada por o trazer aqui hoje.

L.B.

Maria P. disse...

Um dos meus preferidos.
Faz tanto sentido...

Beijinho, obrigada*

Anónimo disse...

Beijos, mesmo que só palavra, são sempre música sacra.
Quem os manda, quem os dá, quem os escreve, sabe bem o bem que faz.
Um só beijo, pode dar ânimo a quem há muito o havia perdido. Aquece a alma, revigora o coração, e, mesmo que faça cair lágrimas de saudade, é lenitivo da mesma saudade.
Beijos.
Fbbc