quarta-feira, 31 de março de 2010

Palavras...


VERBO

Ponho palavras em cima da mesa; e deixo
que se sirvam delas, que as partam em fatias, sílaba a
a sílaba, para as levarem à boca - onde as palavras se
voltam a colar, para caírem sobre a mesa.

Assim, conversamos uns com os outros. Trocamos
palavras; e roubamos outras palavras, quando não
as temos; e damos palavras, quando sabemos que estão
a mais. Em todas as conversas sobram as palavras.

Mas há palavras que ficam sobre a mesa, quando
nos vamos embora. Ficam frias, com a noite; se uma janela
se abre, o vento sopra-as para o chão. No dia seguinte,
a mulher a dias há-de varrê-las para o lixo.

Por isso, quando me vou embora, verifico se ficaram
palavras sobre a mesa; e meto-as no bolso, sem ninguém
dar por isso. depois guardo-as na gaveta do poema. Algum
dia, estas palavras hão-de servir para alguma coisa.

Nuno Júdice
in, As coisa mais simples

5 comentários:

Maria P. disse...

Aos poucos venho descobrindo a poesia de Nuno Júdice, e gosto...

Doces dias, beijinho*

Anónimo disse...

Palavras ditas,leva-as o vento.
As outras.., são um tormento.
bjinho
gb

Anónimo disse...

Palavra é a grande conquista do Homem sobre as outras criaturas.
Bem faz o Nuno Júdice de guardar as que ficam esquecidas, assim ninguém fará mau uso delas.
Boa noite
Fbbc

Rosa dos Ventos disse...

Também há palavras que nos ficam presas na garganta...
Essas ninguém as pode levar, nem varrer...
Só nós as conhecemos!

Abraço

Isabel A disse...

E essas que ficam presas na garganta, quantas vezes farão falta a alguém?