domingo, 27 de julho de 2008

Um dia como os outros!

Cansado de ser homem o dia inteiro

chego à noite com os olhos rasos de água.



Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,

entrar dentro de ti como num bosque.



É hora de fazer milagres:

posso ressuscitar os mortos e trazê-los

a este quarto branco e despovoado,

onde entro sempre pela primeira vez,

para falarmos das grandes searas de trigo

afogadas na luz do amanhecer.



Posso prometer uma viagem ao paraíso

a quem se estender ao pé de mim

ou deixar uma lágrima nos meus olhos

ser toda a nostalgia das areias.



É a hora de adormecer na tua boca,

como um marinheiro num barco naufragado,

o vento na margem das espigas.



Eugénio de Andrade

In Poesia 2.000





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