sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Canção

Vila Flor
Canção

Hoje venho dizer-te que nevou

no rosto familiar que te esperava

Não é nada, meu amor, foi um pássaro

a casca do tempo que caiu,

uma lágrima, um barco, uma palavra.


Foi apenas mais um dia que passou

entre arcos e arcos de solidão;
a curva dos teus olhos que se fechou,

uma gota de orvalho, uma só gota,
secretamente morta na tua mão.


Eugénio de Andrade
Poesia

4 comentários:

Guiço disse...

:))

Anunciação

A neve derreteu nos píncaros da serra;
O gado berra dentro dos currais, a lembrar aos zagais, o fim do cativeiro;
Anda no ar um perfumado cheiro a terra revolvida;
O vento emudeceu;
O sol desceu;
A primavera vai chegar, florida.

Miguel Torga, Diário XI (1969)

Tere disse...

neve
O combóio desaparece na margem da manhã.
Uma monótona melodia metálica flutua sobre os carris.
A sua suíça pontualidade encurta um último beijo.
Tempo para um derradeiro olhar a uma janela fugidia.

O breve encontro chegou a seu prematuro fim.
Uma cerimónia de separação demasiado repetida.
O firme vento norte arrasta neve com ele.
O homem queda-se imóvel na plataforma deserta.

O altifalante anuncia a sua própria partida.
Outro país, outro combóio, juntou-os.
Na sua face a neve derrete-se em fria gotículas.
E ele amaldiçoa a agri-doce ironia das ferrovias.

M.Daedalus

Karine Leão disse...

Vim pelo nome do blog... que me encantou... ao ler tão belas palavras, fiquei embevecida.

Um ótimo fim de semana!

Abraço Karinhoso!

Seia Futebol Clube disse...

No início da minha vida profissional , andei muito por Vila Flor e gostava de almoçar no restaurante Tony, comia-se lá muito bem ...Penso que ainda existe.