quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A morte absoluta

O triunfo da morte

Pieter Bruegel



A morte absoluta



Morrer.

Morrer de corpo e de alma.

Completamente.



Morrer sem deixar o triste despojo da carne,

A exangue máscara de cera,

Cercada de flores,

Que apodrecerão - felizes! - num dia,

Banhada de lágrimas

Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.



Morrer sem deixar porventura uma alma errante...

A caminho do céu?

Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?



Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,

A lembrança de uma sombra

Em nenhum coração, em nenhum pensamento,

Em nenhuma epiderme.



Morrer tão completamente

Que um dia ao lerem o teu nome num papel

Perguntem: "Quem foi?..."



Morrer mais completamente ainda,

- Sem deixar sequer esse nome.

Manuel Bandeira

9 comentários:

Oris disse...

Sei que é uma coisa a que não podemos fugir, mas detesto a palavra morte.

Muito triste este poema...

Beijitos

Rosa dos Ventos disse...

Impossível comentar!

Abraço

Escutador de Almas disse...

Confesso que ando um pouco tétrico, mas já sinto os ventos da mudança e em breve este estado vai mudar!

Zira disse...

Tenho péssima relação com a morte...MAS UM DIA ESCREVI ASSIM

PARTISTE TÃO CEDO...MÃE!


No silêncio das palavras eu te
Escuto
Nas alegrias relembro o teu
Jeito
Na solidão os momentos, que vivemos
Juntas
E um vazio se esconde no meu
Peito.
porque partiste tão cedo....
MÃE!
E eu ..MÃE...? não tive tempo.
Para te dizer o quanto eu te
Amava
Mas, eu sei que tu
Sabias
Para te dar um obrigada
Pelas tuas noites
Perdidas.
De falar contigo dos teus
Sonhos
Eu sei que tu os
Tinhas
Foi preciso eu amadurecer
Para poder entender.
O quanto em silencio
Sofrias!
Perdoa-me MÃE....
Não tive tempo....!
Para te dizer, o quanto eras
Especial
Ate quando prenunciavas meu
Nome...
Sabes , MÃE!
minguem mais o fez
Igual.....
Perdoa-me...MÃE!
Não tive tempo
De te mimar....

Mª Alzira
Lisboa. 14/9/01

Escutador de Almas disse...

Sei o que é a morte, aos 16 anos morreu o meu pai.
Estremeci!
Aos 24 perdi 2 filhas, de parto.
Voltei a estremecer, menos por mim, mais por ela.
Continuei porque era preciso tratar dos vivos!
Compreendo bem a dor de quem teve grandes perdas.

Zira disse...

Fiquei assim... quieta !
Agora entendi melhor a escolha do poema.
Um abraço afectuoso
Zira

mc disse...

Que morte não é absoluta, total, definitiva?!!! Morte é só isso mesmo, contem em si todos os atributos de si mesma. Ficam a dor e a lembrança- mas isso são já de outra natureza.Um abraço.

Tere disse...

Morrer lentamente é muito pior , no meu entender, como tb um poema de Neruda suponho, diz

Tere disse...

Mas aos 10 anos fiquei em absoluto sem a presença de meu pai.