Os dois postes anteriores, com dois poemas sublimes mas um pouco tristes e pessimistas, embora bem realistas, obrigaram-me a reflectir sobre o seu conteúdo.
O silêncio ensurdecedor, a solidão que esmaga, a noite de insónias que não termina, o frio interior, a espera que desespera, o vazio angustiante e a morte ignorada.
A morte é o nada. O nada, a não existência, a ausência de ser e de realidade. A paz total e definitiva.
Enquanto não chega essa paz total e definitiva como podemos lidar com a solidão e o vazio?
Só há uma maneira possível: com afecto, seja amizade, ternura ou amor.
Da amizade ao amor vai um salto qualitativo grande. O amor para ser estável deverá construir-se diariamente, a partir de uma base de amizade, respeito, tolerância e ternura grandes, e ser "condimentado" pelo desejo.
Será que um homem e uma mulher poderão usufruir uma grande amizade?
Podem se o desejo, esse diabinho, não se intrometer.
Por vezes o diabinho está latente, de forma dissimulada, e qualquer pequeno acontecimento pode incendiar a pradaria!
O afecto existe, anda no ar, deve ser saboreado e sentido de forma partilhada, para chegarmos à paz total e definitiva com o menor sofrimento possível.
A questão não é a existência da solidão, do vazio e da dor - existirão sempre - a questão reside na forma como soubermos lidar com essas circunstâncias e na forma como conseguirmos viver e construir o afecto.
7 comentários:
"O afecto existe, anda no ar, deve ser saboreado e sentido de forma partilhada, para chegarmos à paz total e definitiva com o menor sofrimento possível." Completamente de acordo.
Carlos Drummond de Andrade diz que A dor é inevitável e o sofrimento é opcional... Creio que tu neste texto dizes a mesma coisa por outras palavras e eu até concordo com ambos embora por vezes seja mais fácil dizê-lo do que fazê-lo...
No entanto encontro uma contradição grande no teu texto:
Primeiro dizes( e a meu ver dizes bem) que " O amor para ser estável deverá construir-se diariamente, a partir de uma base de amizade..."e depois referes que "Será que um homem e uma mulher poderão usufruir uma grande amizade?
Podem se o desejo, esse diabinho, não se intrometer." Em que ficamos? Eu acho que o amor e a amizade não são assim tão diferentes e sem dúvida não são completos um sem o outro.Existe amor na amizade e amizade no amor.Tem que ser assim.
Parabéns pelo texto, obrigas quem te ler a pensar um pouco e a analisar sentimentos, algo sempre muito bom de fazer(e muito útil)
Beijinhos
Acho bem que acabes por concluir que existe,mesmo,amizade entre um homem e uma mulher!!!
Beijinhos
gb
Tere,
Força, o caminho faz-se caminhando!
Crystal,
Amor e amizade não são a mesma coisa.
Nem em quantidade, nem em qualidade.
O amor convém ter por base uma boa amizade, ainda que não seja obrigatório.
É a minha opinião mas não sou detentor da verdade!
GB,
E porque homem e mulher não poderiam ser amigos?
O problema é o diabinho...
Um beijo para as três!
É verdade mas não é tudo ! e tudo é tão diverso e contraditório! e o diabinho é um anjo! e no emaranhado das circunatâncias convem mesmo é não perder a perspectiva do conjunto nem o sentido da transitoriedade.
Pois...o problema é o diabinho, ou melhor o desejo, por isso lhe chamam diabinho, por vezes estraga tudo, até a amizade que existia...
Bjo*
Encontrei bastante sabedoria e, sobretudo, uma grande dose de lucidez nas tuas palavras.
Acredito na possibilidade (mitigada) da amizade heterosexual entre um homem e uma mulher, mas se ambos forem/estiverem carentes, a facilidade com que essa "amizade" pode descambar para "um consolo que até vinha mesmo a calhar", é deveras enorme.
Mais fiável é a amizade entre homens e mulheres libertos da líbido, ou que ambos amem muito alguém, ou até com propensões sexuais opostas.
Acho, inclusive, que é uma parolisse negar coisas tão evidentes em nome de prosaísmos ou da ostentação de pensamentos vanguardistas; e, sobretudo, tentar ver nestas observações (facilmente comprovavéis)atavismos ou ataques à condição feminina - seja o que for - que não existem.
A Biologia, Deus, whatever, fizeram-nos de tal forma ajustáveis que negar tais evidências é enjeitar a razão de ser das próprias coisas em si mesmas.
Um abraço,
Rosa (não a dos ventos)
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